domingo, 18 de dezembro de 2011

Vez enquando me vejo nos mesmos erros de antes.
É como uma rotina de quedas,
Um engodo de promessas de dias melhores
dos quais insisto em inventar.


Vivendo e aprimorando a arte de se enganar;
se enganar é arte, arte de criar
um mundo só seu, que você cuida e planeja
em miúdos, ignorando o que pode te machucar.


E disso é gostoso se alimentar:
dos dias acinzentados que nos são dados a pintar.
E, pecando por ser amador, descuido, deixo derramar
as cores negras que esqueço de guardar.


Que um dia a vida me faça aprender
a respeitar as demoras de meus passos.
Faço de progressos castelos de cartas: subo e esqueço
que os ventos ainda podem me derrubar.


Lucas Magalhães

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

É como se o céu houvesse desabado;
e sentir o vento bater forte,
chocar com as mãos atadas, geladas,
que as circunstâncias ataram para trás.

É ver as nuvens vencendo o seu sol,
e duvidar que amanhã é de novo dia;
ter certeza que deve abraçar seu amor,
pois este é seu último entardecer.

É ver o céu vender todo seu azul
e empobrecer-se com o enegrecer;
é andar lento debaixo do temporal,
e, desorientado, pensar no que fazer.

É ignorar a distância que se faz,
saber de seus caminhos e não correr atrás.
Ter flores a entregar,
e preferir vê-las murchar - amo você.

(Lucas Magalhães)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

É sempre bom quando alguém canta
o que você quer gritar.
A música é o grito suave daquilo que se esconde,
do que é dito no diálogo com o vazio,
vazio das coisas, das pessoas, nosso vazio.

A música é a indireta predileta da covardia.

(Lucas Magalhães)

domingo, 7 de agosto de 2011

E na carência de bater as asas
o meu canto vivencia no cárcere
dos risos diplomáticos,
de uma cordialidade desnecessária.

Ando me matando por aí,
matando meus direitos, minha liberdade,
matando minha coragem, meu caráter
só pra matar minha saudade.

Vamos passear, minha menina.
Ir pelo céu azul
de ventos inconsolados,
pois este não tem dono.


(Lucas Magalhães)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Não choro mais,
E os gritos aqui ecoados,
Meus não o são.


Não tenho cantado
Como antes, e as cores
Dos quadros, desbotaram-se.


E mais uma vez são três da manhã.
Mas, tudo bem, logo é cedo
E o sorriso, sempre bonito,
Vai mais um dia conquistar
Tudo aquilo que não tem feito satisfazer.

(Lucas Magalhães)

domingo, 8 de maio de 2011

A gente

A gente cresce, aparece; a gente esquece
dos nomes, lugares, de reviver.
andamos todos na mesma trilha,
nos cruzamos sem saber, sem querer.

A gente luta, vence; a gente desconfia
das razões que nos pedem pra viver.
O mundo correndo lá fora e eu...
eu escrevendo pra ninguém ler.

A gente atrai, cativa; a gente não se explica
quando alguém se aproxima.
Vai ver a graça está em esconder
de tudo e todos o que você é.

A gente brinca, ri; a gente emudece
quando o amor vira nossa prece
- Mais amor. Mais amor, por favor... -,
e a catedral desaba sobre nossas cabeças.

A gente foge, corre; a gente pode
fazer o mundo nos entender.
Se a consciência perguntar,
não vamos responder.

A gente quer, acredita; a gente teme
que tudo se disperse, se despeça.
Aquilo que a vida te der, ajunta!
O que é bom foi feito pra se perder.

(Lucas Magalhães)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Amor de Aleff.

Solte seus cabelos, solte-os ao ar
E permita que o vento os acaricie.
Libere o teu corpo aos elevados ânimos,
Não receie arrepiar-se, entregar-se.

Lembra de quando nossas mãos se uniram
E os dedos enlaçaram-se?
Quando as palavras falharam em distrair o tempo
E o silêncio nos fez beijar?
“Hoje bem pensei em uma coisa... que eu te amo.”
Consegue sentir-se cada vez mais em meus braços,
Sempre abertos, desejosos de novos encontros?
Ainda ouve os meus passos
Quando estou a vagar a todo tempo em tua mente?
É firme o coração, e as batidas que dele vêm...
Fecho os olhos e posso nos ver sorrir.

Era ontem e nós, apenas planos,
Seres desnudos, ao acaso e sorte;
E é hoje que sinto a minha mão
Cada manhã caminhar por sobre teu rosto,
Sentir tua pele e confirmar que...
Estamos lado a lado, e,
Que um sem o outro é mera metade.

(Lucas Magalhães)

sábado, 29 de janeiro de 2011

Caminho da praia

Ventos inconsolados e mar revolto
Eram bem notados de todos os pontos;
E em momento algum havia sossego.
O caminho havia se fechado, perdido
Sob montes de areias movidas em súbito.

Tempos de coração pequeno, apertado,
Sangue e água mesclavam-se ao cair da tempestade
E da vida não esperava-se mais nada obter.

“Deus, onde te escondes que não me respondes?
Se És, vem e sara.”

Ainda lembro das mãos, pequenas, brancas e frágeis.
A tempestade parecia rugir com mais furor,
E os ventos contra conspiravam, querendo me fazer parar.
Não me senti mais seguro e nada parou,
Mas a tua presença me fez querer ser, me fez – e faz – mais forte,
Mostrou que era possível, que eu poderia enfim voltar.

No começo, meus pés ainda inseguros,
Embora quisessem transparecer força, tremiam.
Prometi sorrir sempre que preciso, ainda que
O brilho de tudo isso fosse mais uma miragem, irreal...
E parecia destinado a afundar no caminho da praia,
De alguma maneira tive medo que você fosse embora.

Veja, meu amor! Vem e vê
Que hoje sou livre e decidido.
Faltam-me coisas e nada me faz falta,
Pois a gratidão tudo supre.
Lembro dos meus passos outrora errantes,
Agora aprendi novamente a andar.

Sei o quanto me custa silenciar a voz
Quando te vejo,
E até mesmo me fogem todas as palavras
Por não sabê-las usar, formá-las e te fazer entender
E provar o quanto a vida me é leve
Por você estar aqui.

Fizeste encontrar comigo mesmo
E me cativas-te a vir.
Ergui, andei, e hoje estou aqui,
No lugar que sempre procurei e quis estar...
Não vou mais sair.

(Lucas Magalhães)